Feijão com arroz.

Quando cheguei aqui, como era raridade ter na mesa um feijãozinho. Então tive que me acostumar com a comida alemã, já que eu não era lá essas coisas com a culinária. Felicidade era ter alguma visita que trouxesse um quilo de feijão, uma  farinha, uma pimentinha, um café, etc.  Imaginem que eu fazia farofa de farinha de rosca para substituir aquela farofinha de cebola e bacon? Bem, o passado se foi e a internet só trouxe coisa boa neste sentido. Hoje, sento no meu computador e encomendo quase tudo que preciso para matar a saudade do Brasil, ou dar uma de metida e fazer algo para uma visita ilustre, porque aderi ao cardápio internacional. Encontrei ultimamente até os meus maravilhosos „biscoitos de vento“. Isso é fantástico! Ontem abri um requeijao( bem parecido, mas dinamarquês) para comer com goiabada, então resolvi ver na net, achei receita de requeijão e tem mais, receita para fazer carne seca!!! Vou tentar, é claro! Não precisarei mais comprar para fazer o meu raro feijão ou um escondidinho. Bem, a única coisa que não dá para aceitar é a carne de boi daqui. Acho que é consequência dos bichinhos ficarem somente em estábulos, nada de sol, nada de caminhadas, e ainda por cima, o açougueiro pendura a carne para tirar o sangue todo. Dizem que é para ela ficar mais macia. Eu quero morrer quando me dizem isso! O bom da carne é aquele caldo vermelhinho escorrendo, não é? Picanha...vivo sonhando com uma. Ah! Tem churrascaria na Alemanha! Mas lá longe! Düsseldorf, Köln, Berlin... na pobre Röttenbach só tem a Ana Lucia sobrevivendo mesmo.  

Dia de missa.

Domingo...como manda a tradição é dia de ir na missa, para os católicos, é claro.

Religião é um tema muito difícil, porque a fé não se pode impor, ela simplesmente está lá, no seu coração. E seja lá qual for sua fé, que esteja firme, porque acho que sem acreditar em algo estamos fritos.

No casamento com o meu evangélico luterano, ele teve que assinar que, caso viessem os filhos, que seriam educados na religião católica, já que ele optou ( foi praticamente obrigado) por casar de acordo com as leis da santa madre igreja de Roma. Então anos mais tarde nasceu a Luciana, que foi batizada na pia batismal mais antiga do Rio de Janeiro(escolhida pelo pai alemão que se tornou  guia turístico do Rio de Janeiro), na Igreja do Santíssimo Sacramento, na Av. Passos. Tudo muito lindo organizado pela avó coruja Romilda e celebrada pelo Pe. Lobão. Sempre que eu podia levava a Lu na missa para crianças e ela gostava de participar. Quando ela foi para o jardim de infância, o qual também é católico, começaram as iniciações propriamente ditas para a religião. No primário tinha então a aula de religião, administrada por um professor que estudou para isso e com provas e notas. Na terceira série as aulas foram administradas pelo padre de Röttenbach, na preparação para a primeira comunhão e sem nenhuma vocação para lidar com os pequenos. No ginásio a coisa piorou de vez, os temas começaram a ficar mais complexos, mais filosóficos, tendo que estudar muito para as provas, e a minha filha  se desinteressou. O professor também era um  fracasso como gente e um grande arrogante. Quando eu disse que religião para mim era outra coisa e não aquilo que ele dava de acordo com o currículo estipulado pelo ministério, ele quase me bateu. Na décima classe, a minha filha optou pela matéria ética, que mesmo tendo provas e notas ( que poderiam até reprovar!), achou mais interessante. E isso é religião aqui. Entopem a criança desde o jardim, seja católica ou evangélica luterana (em outros casos tem ética), que o jovem não vai na igreja, por outro lado ele tem uma base sólida de fundamentos humanísticos para a vida toda.  Quando vou na igreja , percebo que a idade média na minha cidade é de 50 anos para cima. O padre é espanhol e até tenta dinamizar, mas uma missa totalmente feita como antigamente. Algumas músicas datam de 1500!  Acho que alemão deveria conhecer um pouquinho das músicas do Pe. Zezinho, ou assistir uma missa do Pe. Fábio ou Marcelo. Descontado em folha, o imposto de igreja é de 8% do imposto sobre o salário. O Wolf sempre pagou para a igreja dele e a minha, e ele nem vai lá.

Não me espanta muito tudo isso, num país que tem um papa muito conservador, a missa é e continuará sendo deste jeito. 

Neve.

Este ano o inverno ainda não apareceu. Tivemos um novembro completamente ameno e um natal sem neve. Até agora nada de muito frio, nada de temperatura abaixo de zero graus por aqui na nossa cidade. Somente nas cidades altas ou nos Alpes.

A primeira vez que vi neve, me senti como uma criança. Foi  na passagem pelo Großglockner, o ponto mais alto da Áustria, com 3797 m de altitude. Fiz até um pequeno boneco de neve, que dava na palma da mão. Morando aqui há muito tempo, a neve passou a não ser mais uma novidade, mas muitas vezes fico na janela olhando ela cair silenciosamente. É bonito, mas para quem tem que acordar antes das 7 horas para limpar a calçada, não é nada fácil. Quando ela cai durante à noite, é obrigatório limpar seu espaço. Por que? Se alguém cair por causa da neve ou gelo não terem sido retirados, e a pessoa ter algum ferimento a indenização é salgada. Como aconteceu com minha sogra há muito tempo. Ela caiu numa calçada à caminho do trabalho. Escorregou, quebrou o braço e por conta disso, não pode mais trabalhar como secretária na Siemens. O pulso ficou comprometido e o dono da casa onde foi o acidente não havia limpado, embaixo da neve havia gelo. Bem, ela recebeu uma indenização pelo resto da vida. E se no caso o proprietário viesse a falecer, os herdeiros teriam que pagar até o fim. Então é melhor levantar da cama quentinha e limpar.

Neve para muitos significa também diversão. Esquiar deve ser uma coisa muito boa. Não posso opinar, nunca tive esta experiência. Começar com isso depois de velha seria um pouco arriscado. As crianças fazem com a escola na sétima classe uma semana de esqui. Luciana curtiu muito e chegou em casa sem nada quebrado. Ganhei um esqui usado para fazer caminhadas na floresta, mas nunca tive coragem. Morro de inveja de quem consegue ficar em pé com aquilo, mas depois que quebrei o pé fiquei com mais medo ainda.

Abaixo algumas fotos do jardim do inverno 2010, que foi bem rigoroso. 

Wolf limpando tudo direitinho. Na rua passa o carro empurrando a neve, que se junta na beirada.

Um escândalo.

Aqui está em muita evidência o caso do atual presidente alemão ter tido empréstimos na época que era ministro presidente de Niedersachsen e feito férias de graça em casa de amigos empresários. O que para os brasileiros seria motivo de escândalo e esquecimento, o fato fica martelando todo dia na mídia alemã. Não duvido muito o tal presidente ter que renunciar. Ontem deu uma entrevista coletiva na tv para explicar todos os rumores e por ter ameaçado um jornal. E a liberdade de imprensa? Pediu desculpas, mas não convenceu ninguém. Outro dia foi um  ministro do atual governo  que copiou a tese de doutorado e a farsa foi descoberta. Ele teve que renunciar ao cargo. O povo está de olho e não deixa por menos. Ao contrário do Brasil, votar aqui não é obrigatório, portanto quem participa de uma eleição o faz com plena consciência. Eu não posso votar, naturalmente por não ser alemã, apenas tenho uma autorização de permanência. A minha família é integrada com os assuntos políticos. O meu sogro com seus 92 anos, fica sempre assistindo as discussões pela tv e le jornal todos os dias. A mãe dele foi vereadora em Erlangen por muito tempo. Como no Brasil, a Alemanha tem uma mulher para governar, o que eu acho muito bom, tendo em vista que as mulheres finalmente conseguiram seu espaço também na política. Seja ela boa governante ou não, merece meu respeito.

Ai se eu te pego quiche!

Imaginem só! Eu estava na cozinha fazendo um quiche de escarola escutando o rádio, a Bayern 3 e, para meu espanto eles colocaram a música do Michel Teló, „Ai seu eu te pego“.

Desde que colocaram o vídeo dos soldados israelenses dançando, só se fala nisso por aqui. Confesso que não sinto nenhum orgulho nisso. Se chamam isso de música, o Beethoven está dançando no cemitério. Por que não escolhem uma boa música de Chico Buarque, que está voltando fazer shows?

Mas o meu quiche estava bom demais e quem quiser posso dar a receita.

Aliás, a escarola é somente conhecida como salada por aqui. Gosto também, mas nada como uma verdurinha e um arroz, não é? Como tinha muito em casa, resolvi procurar na internet uma receita para quiche, e não achei nada no lado alemão, mas no lado brasileiro uma infinidade. Onde está a dieta pós festas???